quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O Evangelho de Marcos

Lugar de escrita e primeiros leitores

a. A tradição
O livro não menciona diretamente nenhum lugar de composição, mas já ouvimos que a tradição quanto a autor e destinatários aponta inconteste para Roma. Só uma voz tardia e isolada propõe Alexandria no Egito. Supunha-se uma atuação de Marcos no Egito (cf 2e). Disto Crisóstomo, por volta de 390, parece ter concluído inadvertidamente que Marcos também compôs ali seu evangelho. Portanto, ficamos com Roma, já que vimos que o testemunho interno do livro não se opõe a isto (cf 2d).

b. Suposições mais recentes
Na medida em que a pesquisa atual não segue a tradição, ela deixa esta questão em aberto (Bornkamm) ou tende a imaginar alguma cidade do Oriente do Império como lugar de escrita. (Kümmerl (p 55) acha que a composição em uma cidade “do Oriente é muito provável”. Schmithals (p 61): “… antes no Oriente”. Schreiber se decide pela Síria. Pontos de referência concretos para estas afirmações inexistem. Marxsen, um célebre pesquisador de Marcos, arriscou-se bastante nesta questão em 1959 e sugeriu a redação na Galiléia, sem, porém, angariar apoio. Que sentido, então, teriam esclarecimentos como o de 7.3s? À redação no contexto aramaico já se opõe a tradução de termos para o grego ou até para o latim. De qualquer forma já é estranho que o registro da tradição de Jesus se mostrasse necessária primeiro na Palestina. Com certeza ali as lembranças pessoais de Jesus eram mais intensas, e a tradição oral bem mais desenvolvida do que na distante Roma pagã.
Portanto, tudo favorece a tradição antiga. “Não há nenhum argumento sólido contra a tradição que diz que o evangelho foi escrito em Roma”, dizia Harnack já no começo do século. Pesch descobre, duas gerações de pesquisadores depois: “Não há nada contra a origem romana do evangelho de Marcos”.

c. A situação geral na Roma do século I
Quando o imperador Augusto morreu no começo do século (ano 14), ele tinha deixado Roma esplêndida. Ele “embelezou tanto a capital, que podia realmente gabar-se de ter encontrado uma cidade de barro e feito dela uma cidade de mármore”, relata um historiador romano.
A cidade, de um milhão de habitantes, hospedava um misto colorido de povos, línguas, culturas e religiões. O empurra-empurra nas ruas era tanto que só se permitia o tráfego de carroças à noite. O porto de Roma, Óstia, tornou-se o centro do comércio mundial. O panorama da cidade estava semeado de construções públicas de primeira. As casas particulares não ficavam para trás. Nas casas de banhos dos patrícios, a água corria de canos de prata para banheiras de mármore, espelhos de metal enfeitavam as paredes, instalações de ar quente aqueciam o ambiente. As paredes das residências estavam cobertas de tapeçarias caras, os assoalhos de mosaicos, os tetos de lambris. O desperdício nos banquetes praticamente não tinha limites. Não faz sentido nem mesmo começar a alistar o que havia de pratos exóticos. Providenciava-se música ao vivo para as refeições, e serenatas. Havia vezes em que flores choviam do teto, outras em que dançarinas se apresentavam.
É claro que tudo isto tinha seu lado escuro: as favelas dos pobres, sem os quais esta civilização não poderia existir, e os navios, impulsionados por escravos cheios de desespero e ódio, que diariamente reabasteciam os portos de produtos. O retrato em cores berrantes da derrocada moral do século I temos graças ao escritor romano Tácito: crise econômica, corrupção, anarquia total, apodrecimento da sociedade e um clima geral de decadência. Todos conhecemos a expressão de perplexidade: “Isto aqui parece a Roma antiga!”
A ética do trabalho estava ausente quase de todo. Milhares viviam de subsídios do Estado. Durante o dia matavam o tempo. O ponto alto da sua existência triste era a vida noturna. Iam para orgias com a intenção de se embebedarem. O resultado geralmente era um carnaval absurdo pelas ruas noturnas, farras em bordéis, cenas de ciúmes, brigas e ressacas. Assim Roma se encaminhava inconscientemente para o dia do juízo de Deus. Contra este pano de fundo pode-se ler p. ex. Rm 13.11-14: “Digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do quando no princípio cremos. Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo.” Com uma força de irradiação impressionante, como um sol de graça, verdade e justiça, Cristo tinha nascido no horizonte destas pessoas. Principalmente para esta igreja é que Marcos também escreve.

d. A comunidade judaica em Roma
Tratamos da comunidade judaica porque ela, como em todo o Império, faz parte do contexto histórico anterior à igreja.
Na Bíblia lemos já em At 2.10 que havia judeus morando em Roma. A informação mais antiga sobre vida judaica na capital remonta ao ano 139 a.C. Calcula-se que o número de judeus no início do século I chegava a 40.000; mais tarde Roma chegou a ter mais judeus do que Jerusalém. Há menção de pelo menos treze sinagogas na Roma antiga. Todas cultivavam laços estreitos com a pátria. Quantias consideráveis fluíam para a manutenção do templo amado em Jerusalém.
Como foi que uma comunidade judaica tão grande se formou em Roma? Em primeiro lugar, muitos judeus tinham sido levados como escravos de guerra para lá. Com frequência eram libertos em pouco tempo, porque insistiam teimosamente em guardar o sábado. Ou sua liberdade era comprada pelos correligionários. Muitos permaneceram em Roma. Outros eram levados por sua competência empresarial para este centro comercial de primeira grandeza, e ainda outros por seu fervor missionário. Em Mt 23.15 Jesus lhes concede: “Rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito”. Por último pesava a favor dos judeus seu amor pelas crianças, promovido pela lei de Moisés. O abandono de crianças, a famosa chaga da Antiguidade, entre eles era malvisto.
Quando Herodes o Grande provou ser um apoio confiável dos interesses romanos no Oriente do Império, a influência da comunidade judaica junto à corte cresceu. Disto resultaram alguns belos privilégios: os judeus podiam guardar seu sábado, eram isentos do serviço militar e gozavam de liberdades de reunião especiais. Suas relações com Roma em certas épocas eram tão boas que em Jo 19.12 eles puderam ameaçar Pilatos: “Se soltas a este, não és amigo de César”.
O movimento nascente de cristãos tirou proveito desta generosidade para com os judeus, pois para os de fora eles não passavam de uma questão judaica interna. Por isso a igreja pôde instalar-se também em Roma, numa época em que as autoridades agiam com rigor contra a introdução de novas religiões.
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e. A igreja em Roma
Nossa definição de que o evangelho de Marcos era dirigido aos cristãos romanos não deve ser muito estreita. Certamente também a Itália como província circundante estava em vista, talvez todos os cristãos gentios do Ocidente. Mesmo assim, o centro das atenções era a capital.
Hengel (Geschichtsschreibung, p 91) vê motivos para imaginar o início do evangelho em Roma entre os anos 37 e 41. Judeus convertidos em Jerusalém vieram para a capital e desenvolveram seu trabalho missionário entre seus conterrâneos. Uma informação um pouco mais segura temos do escritor romano Suetônio. Ele conta de tumultos frequentes entre os judeus na época do imperador Cláudio (41-54), incitados por um tal de “Chrestos”, o que pode ser uma distorção de “Cristo”. Os romanos podem ter confundido o nome “Cristo”, incomum para os seus ouvidos, com o nome próprio Chrestos, bastante frequente entre eles. Nos debates internos entre judeus e cristãos a discussão sobre Cristo deve ter sido tão acalorada e decisiva, que os de fora foram levados a crer que um homem com este nome estava entre eles. Estes acontecimentos levaram à expulsão dos judeus inquietos, parece que em especial dos judeus cristãos (At 18.2), no ano 49. Entretanto, como At 28.15 pressupõe, eles logo puderam voltar, contudo desenvolvendo-se separados da sinagoga. Os cristãos ainda não era suspeitos na corte, pois Paulo pôde apelar com otimismo para o imperador no ano 55, esperando dele um processo justo (At 25.11; 28.30). No ano 60 ele parece ter sido liberto.
Depois do martírio do irmão do Senhor, Tiago, no ano 62 em Jerusalém, a primeira igreja começa a abandonar a cidade passo a passo. Em consequência disto, Pedro chega a Roma, “Babilônia”, por volta do ano 63, onde Marcos é seu auxiliar (1Pe 5.13). O período seguinte o aproximou também mais uma vez bastante de Paulo. A 1ª carta de Clemente (escrita nos anos 90), registra o martírio conjunto dos dois apóstolos em Roma. Com bastante certeza, a morte deles está ligada aos acontecimentos que sucederam ao incêndio da capital no ano 64, pois de outra perseguição naqueles anos não se tem notícia. O imperador Nero foi acusado de ser o responsável pela catástrofe, e transferiu esta culpa para os cristãos. Ele conseguiu desviar a ira do povo para esta religião nova e ainda estranha. Tácito e 1Clemente narram como mulheres cristãs eram jogadas na arena para serem pisoteadas por touros selvagens, como as vítimas eram mortas por cães raivosos e incendiadas em fogueiras para diversão do povo nos parques do monte Vaticano.
Como os judeus saíram ilesos, a separação dos dois grupos nesta ocasião já deve ter sido de domínio público. Para isto podem ter contribuído outros fatores. Antes de tudo, havia o interesse e esforço dos judeus de fazer com que estes cristãos não fossem mais considerados iguais a eles. Além disso, parece que entre os cristãos se manifestaram tendências radicais, senão Paulo não teria insistido tanto, em sua carta escrita mais ou menos no ano 57, na lealdade para com as autoridades e no pagamento dos impostos (Rm 13.1-7). Se a carta aos filipenses provém do cativeiro em Roma, então o evangelho já tinha penetrado há muito nos círculos imperiais (Fp 4.22), de modo que estes tinham informações de primeira mão de que os cristãos eram um movimento à parte.
Pressupondo que muitos detalhes de notícias posteriores já podiam ser delineados em anos anteriores, podemos caracterizar a igreja em Roma na época de Marcos com seis pontos:
1. Ela era uma das igrejas mais antigas e ricas em tradições do Império, onde o evangelho era antes algo costumeiro do que desconhecido;
2. Tácito confirma a força numérica da igreja. Além da imigração que uma capital sempre experimenta, fazia-se muito trabalho missionário e conseguiam-se adeptos em famílias influentes, tanto que mais tarde Inácio temia que os irmãos em Roma poderiam impedir o martírio que ele desejava;
3. Os cristãos em Roma tinham adquirido uma posição de preeminência entre as igrejas do Império. Paulo batera à porta, obsequioso (Rm 1.8; 16.16), Pedro tinha atuado ali (1Pe 5.13), cartas importantes eram dirigidas a eles: as de Paulo, aos Hebreus e de Inácio, mais tarde. Por volta de 96, o bispo Clemente de Roma procurou, com responsabilidade fraternal, apaziguar com uma carta o conflito em Corinto;
4. A característica da igreja era gentia. Paulo já teve de advertir a pretensa superioridade diante da minoria judaica (Rm 11.17-24; cap 14 e 15);
5. Em Roma vivia uma comunidade de mártires, experiente no sofrimento. A deportação sob Cláudio e especialmente as vítimas recentes do imperador Nero ainda estavam vivas na memória. A Guerra Judaica estava em pleno andamento. O ressentimento dos romanos com os judeus em todo o Império não poderia ficar sem efeitos para a causa cristã. Novas nuvens escuras surgiam no horizonte;
6. Com o desaparecimento das autoridades originais e das primeiras testemunhas, houve uma mudança de gerações. Em vista disto, Marcos interveio e garantiu à igreja a tradição de Jesus. Nós o incluímos entre os “homens da parte de Deus”, que “falaram”, “movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21).
Paz! Até a próxima postagem.


Referências Bibliográficas; COMENTÁRIO ESPERANÇA.  Autor  Adolf  Pohl Editora Evangélica Esperança

Prof°  Euler lopes

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O Evangelho de Marcos

Esse esclarecimento é para todos os estudantes de nosso seminário teológico, e para pessoas que desejam ter conhecimento do Evangelho de Jesus Cristo segundo escreveu João Marcos. É muito difícil para nós professores, explicar detalhadamente todos os pontos teológicos em poucas horas, haja vista, a necessidade  que existe entre os nossos alunos, de não ter material disponível em suas mãos. Por isso, compartilho com vocês alguns apêndices do Evangelho de Marcos para podermos elucidar cada questão que envolve o livro.

O Evangelho Segundo Marcos 

Considerado por alguns estudiosos como o primeiro evangelho a ser escrito, não obstante  tenha sido colocado após " Mateus" o Evangelho Segundo Marcos é o mais curto de todos os evangelho, sendo que vinte e cinco por cento de sua narrativa é dedicada a registrar os últimos acontecimentos da vida de Cristo, a comumente chamada" semana da  paixão", e o restante, de forma diferenciada, dedicados aos feitos milagrosos realizados por Aquele que "[...] tudo tem feito esplendidamente bem [...]",Mc. 7. 37.
Marcos é considerado, um dos evangelhos sinóticos.
O termo sinótico vem de duas palavras gregas, cujo significado é “ver conjuntamente”. Dessa maneira, Mateus, Marcos e Lucas tratam basicamente dos mesmos aspectos da vida e ministério de Cristo. Dos evangelhos sinóticos, Marcos é o mais breve. O Evangelho de Marcos é geralmente considerado o primeiro evangelho que foi escrito, diz Darrell Bock. Embora esse fato não tenha um consenso unânime, a maioria dos estudiosos crê que Marcos foi escrito antes dos outros evangelhos. J. Vernon Mc Gee defende a tese de que Marcos foi escrito por volta do ano 63 da era cristã. Sendo, assim, William Barclay o considerava o livro mais importante do mundo, visto que serviu de fonte para os outros evangelhos e é o primeiro relato da vida de Cristo que a humanidade conheceu. Dos 661 versículos de Marcos, Mateus reproduz 606. Há apenas 55 versículos de Marcos que não se encontram em Mateus, mas Lucas utiliza 31 destes. O resultado é que há somente 24 versículos de Marcos que não se encontram em Mateus ou Lucas. Isso parece provar que tanto Mateus quanto Lucas usaram  o evangelho de Marcos como fonte.                        

O Título do livro

O manuscrito mais antigo que nos preservou trechos do evangelho de Marcos, o papiro Chester Beatty I (p45), do século III, não ajuda a elucidar a origem do título, pois infelizmente só começa em 4.36. Os próximos manuscritos mais antigos já são as famosas testemunhas principais da Bíblia toda, o Códice do Vaticano (B) e o Códice Sinaítico, do século IV. Nestes, o livro tem o título curtíssimo: “Segundo Marcos”. Eles silenciam sobre o conteúdo e só respondem à pergunta: Quem é a testemunha? Isto os copistas não tardaram a compreender e acrescentaram “Evangelho segundo Marcos”, a partir do próximo século. Os Pais da Igreja já tinham encontrado antes este caminho, em seus escritos. Será que o título mais antigo, “Segundo Marcos”, remonta ao próprio Marcos? Será que já constava do seu original? Uma referência autoral como título soava tão estranha naquela época como hoje em dia. Devemos levar em conta, porém, que todos os evangelhos têm o título nestes termos. Mesmo que Marcos tivesse dado um nome tão estranho à sua obra, será que quatro escritores fariam a mesma coisa? As probabilidades não favorecem esta alternativa. Além disso, na Antiguidade não era costume que o autor desse o nome ao seu livro (L. Koep 674.685; Fouquet-Plümacher 275.282). Este resultava do uso que se fazia da sua obra.
O apresentador de um teatro tinha de anunciar a peça de alguma forma, e principalmente os bibliotecários necessitavam de títulos nas obras para poder classificá-las. Muitas vezes eles os derivavam de termos importantes da introdução. Com livros bíblicos agia-se da mesma forma. O “Apocalipse de João”, p. ex., tem seu título de Ap 1.1; as cartas de Paulo, da indicação de destinatário no início, p. ex. “Aos Romanos” de Rm 1.7. Por último, mais uma circunstância favorece nossa proposição de que as indicações de autor não procedem dos próprios evangelistas. Em cartas, era regra que o autor mencionasse seu nome logo no começo; todavia, nos evangelhos, o contrário parece ser o caso. Em Mateus e Marcos não há o menor indício, em Lucas só o “eu” anônimo do autor em 1.3, e em João só o “ele” do autor no fim, sem menção de nome, em 19.35; cf 20.30s, 21.25. Parece que aqui há coerência. Somente os evangelhos apócrifos do século II acharam necessário atribuir-se o prestígio de terem sido escritos por autoridades dos primórdios do cristianismo. Assim, p. ex., o Evangelho de Pedro, do século II, enche a boca para dizer: “Eu, porém, Simão Pedro”. Em oposição a isto, nossos evangelhos canônicos tinham prestígio desde o começo. Seus responsáveis não precisavam destacar-se, por serem conhecidos na cristandade ainda jovem e visível a todos, e nem podiam, porque quem fala realmente nestes livros era, em sentido específico, o Senhor (cf Hb 2.3). Depois que os tempos do início ficaram para trás, e principalmente quando existiam quatro livros do mesmo tipo lado a lado no século II, a necessidade prática impôs de que se fizesse distinção entre estas quatro testemunhas. Foi então que surgiram as indicações de autoria: “Segundo Mateus”, “Segundo Marcos” etc. Esta informação era fixada com um bilhete na haste de madeira do rolo, o que era prático para quem procurava determinado rolo em uma caixa de madeira ou vaso de barro. Mais tarde, quando a Bíblia passou a ser transmitida em forma de códice, este título curto também pôde ser colocado na margem superior de cada folha, para facilitar a procura de passagens. Na página de capa, por outro lado, os títulos costumavam ser ampliados. De Mc 1.1 foi tirado o termo “evangelho”.
Do Evangelho de Mateus, p. ex., existe a sonora descrição “O Santo Evangelho do Apóstolo Mateus”. 
O título curto desobrigava, a princípio, que se desse um nome a este tipo de literatura, pois isto representava uma dificuldade, já que não havia ponto de referência. Somente a partir de meados do século II passou-se a dizer, como é costume até hoje: Estes são os quatro evangelhos! Desta forma, “evangelho”, além de referir-se ao único Evangelho do qual não podia haver imitações (Gl 1.6s), passou a ser o nome de quatro livros. Sendo assim, o título breve “Segundo Marcos” e sua ampliação “Evangelho segundo Marcos” são oriundos do cuidado cristão da Igreja posterior.

Autoria                                                                              
Determinar de forma precisa a autoria desse evangelho é uma tarefa difícil, uma vez que não há, nenhuma parte dessa obra, uma única afirmação direta acerca de sua autoria. Entretanto, com base na afirmação e líderes eclesiásticos que viveram no período pós-apostólico, como Papias de Hierápolis e Eusébio de Cesaréia, este evangelho é produto das mãos de João Marcos, o mesmo mencionado em Atos dos Apóstolos (12.12, 25; 15.37, 39) e nas epístolas paulinas (Cl. 4.10-11; 2Tm. 4.11; Fl. 24; 1Pe.5.12-13).                 Assim escreveu Papias ( a citação abaixo foi preservada por Eusébio de Cesaréia, em sua obra "Histórias Eclesiástica", III,39,15): Marcos, que realmente se tornou o primeiro interprete de Pedro, escreveu com exatidão, tanto quanto podia lembrar, sobre coisas feitas ou ditas pelo Senhor, embora não em ordem. Pois ele nem ouvira ao Senhor nem fora seu seguidor pessoal, mas em período posterior, conforme eu disse, passara a seguir a Pedro, que costumava adaptar os ensinamentos as necessidades do momento, mas não como se estivesse traçando uma narrativa corrente dos oráculos do Senhor, de tal forma que Marcos não incorreu em equívoco ao escrever certas questões, conforme podia lembrar-se delas. Pois tinha apenas um objetivo em mira, a saber, não deixar de fora coisa alguma das coisas que ouvira e não podia incluir entre elas qualquer declaração falsa.                                                                 
O "Marcos" ao qual  o discípulo de Policarpo - Papias - se refere na citação acima é o filho de uma piedosa mulher de Jerusalém, chamada Maria, cuja casa era utilizada para culto de oração e estudos das Sagradas Escrituras ( At. 12.12). Ele, tanto quanto Lucas, não foram testemunha ocular dos feitos de Jesus, não apercebendo, portanto, em nenhum lugar na lista apostólica (Mt.10.2-4; Mc.3.13-19; Lc.6.12-16; At.1.13). Alguns teólogos dizem: as informações que coletou para a composição desses evangelhos foram provenientes das pregações do apóstolo Pedro durante algumas de suas viagens, porém outros estudiosos vão mais afinco.

O testemunho do livro
Será que havia no livro algum ponto de referência quando foi escolhido o título “Segundo Marcos”, no século II? Em lugar algum há uma indicação de autor; o nome Marcos nem aparece. Incorremos em mal-entendido se concluímos disto que o autor quis ou conseguiu ocultar-se dos seus leitores. Ele deve ter sido bem conhecido deles, ou não lhe teriam dado a tarefa de escrever sua obra, e esta não teria alcançado seu prestígio. Os primeiros cristãos viviam em comunidades que se podiam visualizar. Ninguém conseguiria realizar um trabalho como este em segredo, nem fazê-lo circular secretamente. Além disso não era costume, nem apropriado tendo em vista o conteúdo, inserir o próprio nome em um relato das palavras e ações do Senhor.             
Será que mesmo assim ficaram “impressões digitais”?
Alguns comentadores acham que o evangelho de Marcos contém “impressões digitais” do autor (Th. Zahn, Wohlenberg, Rienecker). Fazem também outra comparação: o famoso pintor Rembrandt gostava de pintar a si mesmo dissimulado em seus quadros. De modo igualmente singular, Marcos deu a entender aos conhecedores: aqui está quem escreveu. Trata-se principalmente de quatro passagens que pertencem ao acervo específico de Marcos. Em 14.51s aparece “um jovem” que, devido às suas vestes finas, está cercado de uma aura abastada e aristocrata. Rienecker escreve sobre isto: “Este acontecimento, em si insignificante, só interessa àquele que o protagonizou, que só pode ter sido o próprio Marcos”. Ele fora testemunha ocular e auricular, e aqui se dá a conhecer como fiador da tradição.Em 14.13 lemos sobre “um homem trazendo um cântaro de água”, que aparentemente sabia de tudo. Ele já esperava pelos dois discípulos, sem mais perguntas os conduz pelo caminho e os leva à casa certa. Em seguida, no versículo 19, alguns manuscritos acrescentam (cf RC): “E outro: Porventura sou eu, Senhor?” Já que a frase anterior fala dos discípulos, este “outro” poderia ser um morador da casa. Isto aponta de novo para o homem do cântaro.Por fim, em 10.17 se registra que “correu um homem ao encontro” de Jesus, para quem Jesus depois olha com carinho. Pensa-se que este moço abastado bem poderia ter sido (o próprio) Marcos. Só ele poderia ter sabido deste olhar de Jesus.
O resumo fica assim: Em Jerusalém havia o filho de uma família conhecida e rica, que não fazia parte dos discípulos de Jesus mas acompanhava os acontecimentos mais íntimos e estava bem informado. Disto se conclui: Os membros da igreja de Jerusalém, que naturalmente conheciam este homem, nestas passagens o teriam reconhecido. Trata-se do João Marcos do livro de Atos, o filho da viúva Maria, que colocou seus bens à disposição primeiro de Jesus e depois da primeira igreja. Estas colocações aparentemente se encaixam muito bem, mas o termo “um” nem sempre é tão significativo. Ele pode ser bem neutro (p. ex. 12.42, 14.3,47). E, mesmo que este jovem ou homem fosse cada vez a mesma pessoa, Marcos no caso, isto ainda não prova que este Marcos escreveu o evangelho. Isto só diz a próxima suposição. Assim, enfileiram-se suposições para atingir o alvo. Em conclusão: o testemunho do livro não leva a uma informação clara. Continuamos com um autor anônimo, cercado de suposições.                                                                          
As fontes de Marcos
A comparação dos primeiros três evangelhos comprova que naquela época as histórias sobre Jesus não eram contadas com palavras próprias, mas seguindo relatos mais antigos.  A observação de Papias credita a Marcos só uma fonte: Pedro! Mas isto certamente é uma simplificação. Como filho da casa da qual os primeiros cristãos entravam e saíam, ele não deve seus conhecimentos a uma só testemunha. De acordo com tudo o que sabemos sobre o primeiro grupo de discípulos, Pedro tinha um papel de liderança antes e depois da Páscoa, mas ele não era a única testemunha. Lucas confirma em seu evangelho (1.1,2): desde o começo havia um número considerável de testemunhas oculares, de relatos por escrito e – podemos completar, em retrospecto – de evangelhos. Uma parte considerável do material de Marcos pode remontar a Pedro ou ter alguma relação com ele, mas não tudo. De fato, o próprio evangelho de Marcos traz indícios de que dispunha de mais subsídios orais e documentos escritos. Veja estas indicações, que todo leitor da Bíblia pode conferir: Marcos menciona 81 vezes o nome “Jesus”, o que dá em média uma referência a cada oito versículos. Bem no meio, porém, entre 6.30 e 8.27, temos 90 versículos em sequência sem uma só menção deste nome; ali só encontramos o pronome pessoal para identificar o Senhor. Isto parece indicar um outro texto-base.O leitor da Bíblia também conhece a expressão típica de Marcos “logo”, “então”, “imediatamente”. Só no primeiro capítulo ela aparece onze vezes, ao todo 43 (em Mateus ela só é usada oito vezes, em Lucas e João só três cada). Olhando com atenção, porém, vê-se que a sua distribuição por capítulos é bem irregular. Na primeira metade do livro, até 8.26, temos 35 casos. Depois a palavra quase que desaparece, para reaparecer em duas histórias (9.15,20,24 e 14.43,45). “Logo”, portanto, não é típico de Marcos em si, mas de uma ou algumas de suas fontes. No capítulo 1, o primeiro discípulo é cinco vezes “Simão”, mas depois ele é sempre, 20 vezes, mencionado por seu cognome “Pedro”. Exceções são 3.16 (os dois juntos) e 14.37 (quando Jesus se dirige a ele).Jesus também não é chamado de maneira uniforme. Na primeira metade, ele só é chamado de “mestre” (oito vezes), depois só mais duas vezes, alternado com quatro usos do termo aramaico correspondente, “rabi”. Dn 7.13 é citado duas vezes, mas de forma diferente. Em 13.26 é “nas nuvens”, em 14.62 “com as nuvens”. Estes exemplos de terminologia não uniforme são fáceis de suplementar (cf Pesch I, p 15ss; II, p 3ss). Existe maneira melhor de explicar estas disparidades do que no evangelho de Lucas: que os evangelhos, inclusive o de Marcos, se baseavam em várias testemunhas! Ao mesmo tempo, estes exemplos mostram como Marcos lidava com suas fontes. Ele poderia tê-las retrabalhado profundamente, dando ao seu livro uma consistência estilística. Lucas fez mais ou menos isto, mais tarde. Pode-se ver isto nos trechos que ele assumiu de Marcos. Ele não deixou quase nenhuma linha sem correção estilística. Marcos, por sua vez, sentia que suas mãos estavam amarradas. Só com muito receio ele interveio aqui e ali. Em razão disto, seu livro não poucas vezes parece tosco em termos linguísticos (veja o ponto 4 a seguir). Sua contribuição pessoal consistiu na seleção e disposição do material, na tradução de palavras aramaicas, no esclarecimento de costumes judaicos (7.3,4), em pequenas explicações e indicações (2.28; 7.11b,19b; 13.14; 14.18), em ampliações com efeito de atualização (10.12) e, principalmente, em condensações (p. ex. 3.7-12). Compare os detalhes dos comentários sobre estes trechos, bem como a nota prévia 1 a 2.18-22.Se Marcos, portanto, entrelaçou várias fontes, será que é possível desfazer estes laços? Será que podemos verificar onde uma fonte termina e começa a outra? Suas fontes podem ser reconstruídas e separadas das contribuições dele? Especialmente em Marcos este empreendimento incorre em muitos fatores de insegurança. Há uma diferença com os evangelhos posteriores. Nestes, naquilo em que Marcos lhes serviu de base, podemos comparar a fonte com o resultado, verificar linha por linha as diferenças e deduzir métodos de trabalho. Esta possibilidade não temos em Marcos. Não é possível deduzir sem margem para dúvidas seu estilo redacional a partir da tradição. Apesar disso, alguns pesquisadores oferecem soluções “perfeitas”, classificam cada expressão, até cada “e” e “ou” neste ou naquele lado. Acham que podem fazer listas de vocábulos “marquínicos”, que usam com desenvoltura. Estes pesquisadores, porém, sabem tanto que temos de desconfiar deles, e é possível que suas conclusões tenham muito pouco a ver com o Marcos histórico.
As tentativas de reconstrução das suas fontes com frequência resultam tão diferentes, que pensamos estar em um contorcionismo literário. Comentadores sensatos sentem que este tipo de pesquisa de Marcos de modo geral está pisando em solo pantanoso. Sempre devemos fazer análises críticas para chegar a uma compreensão das fontes que envolveram o evangelho de Marcos. Para um bom seminarista, a observação do que está sendo estudado, analisado e apresentado por outras fontes, seve de ferramentas para tirar boas conclusões. Paz de Cristo!
Até a próxima postagem.                                                   

Referências Bibliográficas;
 Comentário Esperança de Adolf Pohl. Introdução ao Novo Testamento de Roberto dos Reis (IBAD). Comentário Bíblico. Rio de Janeiro: Editora CPAD. 
Por Que 4 Evangelhos? São Paulo: Editora Vida.
Prof°.; Euler Lopes

   
    


domingo, 19 de janeiro de 2014

Prof. Dr. Vilson Scholz - A Bíblia, Sua Natureza, Função e Finalidade

Enriquecendo-se com a Bíblia.



A bíblia é um tesouro de verdades espirituais a todo o que ler, ouve e pratica a Palavra de Deus. Enriqueça-se através dela, leia-a diariamente e estude-a frequentemente e terás bons resultados.  

1. Gênesis24-2; 47.29-31
O juramento com a mão sob a coxa.
Significava então submissão, obediência irrestrita. Por isso Deus tocou a coxa de Jacó. (Gn. 32.24-32). Realmente, dali para frente Jacó tornou-se um homem de Deus. Até seu nome foi mudado!

2. Gênesis 37.34-Rasgar as vestes
Demonstração de luto, tristeza e lamento. Há 28 casos na Bíblia. Os sacerdotes não podiam fazer isso (Lv 10.6), mas, em Mateus 26.65 o fez, sem razão. Esse ato de rasgar as vestes obedecia a uma série de regras.

3. Juízes5.10-0 cavalgar sobre jumentas brancas Era então costume exclusivo
dos reis, juízes e fidalgos isso explica a passagem em apreço.

4. Juízes 9.45 Semeadura de Sal
Esse ato significava desolação perpétua sobre o local. Castigo perene.

5. 'Rute 3.9- Pôr a aba da capa sobre alguém Significava a proteção. Aqui tratava-se da lei do levirato, conf. Dt 25.5-10, portanto nenhuma indecência havia aqui, como muitos o querem.

6. Salmo 119.83-Um odre na fumaça
Odres são vasilhas feitas de peles para o transporte de líquidos. Eram postas sobre a fumaça para ficarem endurecidas pelo calor e fumaça. Isso também fazia aumentar a resistência e a espessura do couro através do encolhimento. Fala do estado de alma de Davi.

7. Mateus 1.18-Maria desposada com José
Na linguagem do AT, o termo significa noivos, conforme vemos em Dt. 20.7; 22.23-24.
Naqueles tempos, em Israel, o noivado era ato seríssimo. E de fato o é. Os noivos tinham responsabilidade como se fossem casados Em suma: Em Israel, o noivado era o primeiro ato do casamento. Nessa ocasião, o noivo entregava à noiva o contrato de casamento, ou uma moeda inscrita: "Consagrada a mim."

8. Mateus 25.1-13 - Um casamento oriental
As núpcias duravam 7 dias ou mais dias. A união definitiva do casal somente tinha lugar no último dia. Nesse dia, o noivo dirigia-se à casa da noiva  a noite e a conduzia para a sua casa. Às vezes o ato ocorria também de dia. A lua-de-mel durava um ano. (Dt 24.5)
Referências Bíbliográficas. Coletânea de Curiosidades Bíblicas do Pr. Carvalho Júnior.

prof°: Euler lopes

Explicando as Aparentes Contradições na Bíblia.


As pessoas nos perguntam: a bíblia tem contradições? Se tem, ela não é a Palavra de Deus. A bíblia é um livro enigmático que contem expressões idiomáticas em todas as suas páginas, por isso requer que o Espírito nos revele a verdade através de estudos sinceros da palavra para podermos compreende-las e assim solucionar as aparentes discrepâncias. Aí vai algumas delas.

 Quantas gerações foram contadas entre o exílio e Cristo:
quatorze ou treze?
PROBLEMA: Mateus diz que "desde o desterro de Babilônia até Cristo, (são)
catorze" gerações (1:17). Entretanto, ele menciona apenas 13 nomes depois do
exílio. Então, qual é o correto, treze ou quatorze?
SOLUÇÃO: Ambos estão corretos. Jeconias é contado nas duas listas, já que
ele viveu tanto antes como depois do exílio. Portanto, há literalmente 14
nomes na lista "desde o exílio na Babilônia até Cristo", tal como diz Mateus. Há
também literalmente 14 nomes na lista entre Davi e o exílio, tal como afirma
Mateus 1:6-12. Não há erro no texto, absolutamente.

MATEUS 24:34 - Jesus errou quando afirmou que os sinais do tempo do fim
se cumpririam em sua era?
PROBLEMA: Jesus falou de sinais e maravilhas no que diz respeito à sua
segunda vinda. Mas ele disse que "esta geração" não passaria, sem que tudo
isso acontecesse. Isso quis dizer que esses eventos aconteceriam durante a vida
dos que o ouviam?
SOLUÇÃO: Esses eventos (i.e., a Grande Tribulação, o sinal da volta de Cristo
e o fim dos tempos) não ocorreram nos dias de seus ouvintes. Portanto, é
racional entendermos que o seu cumprimento se dará ainda no futuro. Essa
questão requer um exame mais cuidadoso do significado de "geração", quanto
a sentidos diferentes relativamente aos contemporâneos de Jesus.
Primeiro, "geração" em grego (genea) pode significar "raça". Nessa
situação específica, a afirmação de Jesus poderia significar que a raça judia
não passaria até que todas as coisas se cumprissem. Por haver muitas
promessas a Israel, inclusive a da herança eterna da terra da Palestina (Gn 12;
14-15; 17) e do reino Davídico (2 Sm 7), Jesus poderia estar se referindo à
preservação da nação de Israel por Deus, de forma a cumprir com as
promessas feitas a Israel.
De fato, Paulo fala de um futuro da nação de Israel, quando eles serão
restabelecidos nas promessas do pacto de Deus com eles (Rm 11:11-26).
A resposta de Jesus à última pergunta de seus discípulos levava em conta que
haveria um futuro reino para Israel, quando eles perguntaram: "Senhor, será
este o tempo em que restaures o reino a Israel?" Em vez de repreendê-los por
falta de compreensão, Jesus respondeu: "Não vos compete conhecer tempos
ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade" (At 1:6-7).
Segundo, "geração" poderia referir-se também a uma geração em seu
sentido usual, de pessoas vivendo no tempo indicado. Nesse caso, a palavra se
referiria às pessoas que estarão vivas quando essas coisas acontecerem no
futuro. Em outras palavras, a geração que estiver viva quando essas coisas
começarem a acontecer (o abominável da desolação [v. 15], a grande
tributação, tal como nunca houve antes [v. 21], o sinal do Filho do Homem no
céu [v. 30] etc.) permanecerá viva até quando esses juízos se completarem.
Portanto, já que comumente se crê que, no fim dos tempos, a tribulação terá a
duração de sete anos (Dn 9:27; cf. Ap 11:2), Jesus estaria dizendo que "esta
geração" que estiver vivendo a tribulação ainda estará viva no seu final.
Sob qualquer hipótese, não há razão alguma para se considerar que
Jesus tivesse feito a afirmação, obviamente falsa, de que o mundo terminaria
dentro do período de vida dos seus contemporâneos.


Através de um exame das Escrituras podemos chegar a uma conclusão. Abíblia não se contradiz.

A Paz do Senhor!

prof°: Euler lopes    Referências Bíbliográficas.   Manual de duvidas e contradições da bíblia deNorman Geisler - Thomas Howe.

12 MANEIRAS DE ESTUDAR A BÍBLIA SOZINHO

I - Como estudar a Bíbllia

PRINCÍPIOS DE ESTUDO DINÂMICO DA BÍBLIA
O estudo dinâmico da Bíblia não requer nada de mágico. Uma vez tendo compreendido os princípios básicos, é simples de fazer. A seguir, apresentamos cinco princípios gerais que você precisará lem­brar, independente do método de estudo que esteja usando.
1. O segredo do estudo dinâmico da Bíblia é saber fazer o tipo certo de perguntas. Os doze métodos de estudo da Bíblia expostos neste livro exigem que você faça perguntas para o texto bíblico. A princi­pal diferença nestes métodos é o tipo de pergunta que você fará. Você terá tipos diferentes de perguntas com cada método diferente de estudo da Bíblia. Fazer perguntas é uma habilidade que pode ser desenvolvida. À medida que você aumentar em proficiência no es­tudo da Bíblia, você desenvolverá a arte de fazer perguntas. Quanto mais perguntas você fizer sobre o texto em estudo, mais extrairá dele. Você perceberá que pode bombardear o texto com ilimitado número de perguntas. Um dos benefícios em estudar a Bíblia é o desenvolvimento de uma mente mais inquisitiva. Você descobrirá insights empolgantes que foram negligenciados no passado. Parece­rá que você ganhou novos olhos! De repente, toda vez que você apanha a Bíblia para estudar, novas verdades saltam do texto.
2. O estudo dinâmico da Bíblia envolve anotar o que foi obser­vado e descoberto. Você na verdade não considerou cuidadosa e detalhadamente um texto bíblico até que tenha escrito os pensa­mentos tidos. Não se pode estudar a Bíblia sem escrever algo. Esta é a diferença entre ler a Bíblia e estudar a Bíblia. Na leitura da Bíblia, você lê do princípio ao fim uma porção selecionada da Escritura, ao passo que no estudo da Bíblia, você toma notas ex­tensas. Dawson Trotman, fundador da organização cristã Os Navegantes, dizia: "Os pensamentos se desembaraçam quando atravessam os lábios e as pontas dos dedos". Se você não colocou suas observações no papel, na realidade você não as considerou de modo cuidadoso e detalhado.
Este princípio é verdadeiro não apenas para o estudo da Bíblia, mas também para muitas outras áreas da vida cristã. Uma das coi­sas mais lucrativas que você pode fazer em sua vida espiritual é começar um tipo de caderno espiritual no qual você escreva pen­samentos e compreensões intuitivas que Deus lhe deu.
Em nenhuma outra atividade, tomar notas é mais importante do que no estudo da Bíblia. Se você realmente estima as pepitas da verdade que for descobrindo, tomará nota de tudo o que pesquisar das Escrituras. Mesmo que não veja nada em determinado versículo, escreva isso. Cada método de estudo da Bíblia neste livro tem uma forma de estudo projetada a ser usada com o método, de modo que você possa escrever várias notas sobre o que está estudando.
3. A meta final do estudo dinâmico da Bíblia é a aplicação, não só a interpretação. Não queremos nos conformar apenas em entender; queremos aplicar os princípios bíblicos no nosso viver diário. Dwight L. Moody, grande evangelista e pedagogo cristão de uma geração passada, dizia: "A Bíblia não foi dada para aumentar nosso conheci­mento, mas para mudar nossa vida". Foi dada para mudar nosso caráter e nos levar mais em conformidade com Jesus Cristo. Todos os nossos esforços no estudo da Bíblia não têm valor se, na análise final, não mudamos e nos tornamos mais semelhantes a Jesus. Te­mos de ser não apenas ouvintes, mas praticantes da Palavra (Tg 1.22).
É possível conhecer a Palavra de Deus e não conhecer o Deus da Palavra. Uma das tragédias de nossos dias é que alguns dos me­lhores estudiosos da Bíblia também são indivíduos que menos ga­nham almas para Jesus. Eles têm tempo para pesquisar as grandes pedras preciosas da verdade bíblica, mas esquecem que um dos mandamentos da Escritura é sair e fazer discípulos. Quando aplica­mos a Palavra de Deus em nossa vida, também ficamos ansiosos em cumprir a Grande Comissão (Mt 28.18-20).
Certo dia, um crente me perguntou: Qual é a melhor tradução? (Ele se referia, é claro, à melhor versão da Bíblia.)
— A melhor tradução é quando você traduz a Palavra de Deus para a sua vida diária — respondi.
Ele disse:
— Mas eu tenho a Bíblia Viva. (Ele ainda não tinha entendido.)
— É você que deve ser a Bíblia viva! A Palavra que se fez carne tem de ser visível na sua vida — Respondi.
Algumas perguntas que você deve fazer em seu estudo da Bí­blia são: Que atitude preciso mudar em conseqüência deste estu­do? O que é que preciso começar a fazer ou deixar de fazer? Em que coisas preciso crer ou deixar de crer? Que relações precisas continuar trabalhando? Que ministério devo ter com os outros? Nossa meta em todos os estudos da Bíblia é conhecer Jesus Cristo e nos tornar como ele em nossas atitudes, nossos pensamentos, nossa fala, nossas ações e nossos valores.
Quando a Palavra de Deus muda nossa vida e nos faz mais como Jesus, é quando nos damos conta de qual é o verdadeiro propósito da vida, qual é a verdadeira alegria e o que significa para Deus mudar o mundo por meio de nós. A Grande Comissão é cumprida e almas são ganhas quando nos tornamos semelhantes a Cristo e fazemos sua vontade.
Um pensamento adicional: Quando começar a estudar a Pala­vra de Deus, não vá com a atitude de descobrir uma verdade que ninguém viu. Não estude com a intenção de encontrar algo para impressionar os outros. Estude a Palavra para descobrir o que ela tem a dizer para você. O verdadeiro problema para a maioria de nós não é a interpretação de passagens difíceis, mas a obediência às passagens que entendemos.
4. O estudo dinâmico da Bíblia significa que a Palavra de Deus deve ser estudada sistematicamente. Um estudo fortuito da Palavra de Deus é um insulto à santidade da Escritura. E um bofetão na santidade de Deus que nos deu a Palavra. O "estilo cafeteria", o "método pesquise ou pule", ou a "abordagem o que é que vamos achar hoje" não produzirão os resultados que Deus deseja para nossa vida. Precisamos de um plano sistemático e regular de estu­do, quer nos dediquemos a um livro, estudemos uma palavra, analisemos uma personagem, estudemos um capítulo ou escolha­mos outro método.
Não devemos negligenciar nenhuma passagem ou seção da Bí­blia, pois o Antigo Testamento é a Palavra de Deus tanto quanto é o Novo. Muitas pessoas hoje em dia não sabem grande coisa sobre o Antigo Testamento. Alguns, talvez, terão vergonha quando che­gar ao céu e ser perguntado por Sofonias: "Como você apreciou meu livro?" Visto que " Toda Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3.16; grifo do autor), precisamos estudá-la toda de modo sistemá­tico. (No apêndice G há a sugestão de um plano para tal estudo sistemático.)
Estudar a Bíblia é como ser um bom detetive. Um bom estu­dante da Bíblia segue basicamente o mesmo procedimento que um bom detetive. A primeira coisa que um detetive faz é sair e procurar pistas. Ele não diz nada, não interpreta nada, não tira nenhuma conclusão, mas olha todos os detalhes. Observa coisas que outras pessoas normalmente negligenciam, porque é treinado na observa­ção. Em segundo lugar, começa a fazer perguntas com base no que observou. Em terceiro lugar, depois de intensa observação e questionamento, passa a reunir as provas e interpretar o que tem. Em quarto lugar, compara e faz correlações, reconstituindo todas as provas que coletou para ver como cada fato se relaciona com os outros. Finalmente, tira uma conclusão e toma uma decisão com base no que concluiu — o que ele acha que aconteceu e quem estava envolvido.
O estudante sério da Bíblia segue estes mesmos passos básicos quando aborda a Palavra de Deus. O primeiro passo é observar— ver os fatos básicos contidos no texto sob estudo. Em seguida, vem fazer perguntas — descobrir fatos adicionais mediante observação mais intensa. Em terceiro lugar, ele tem de interpretar — analisar o que o texto significa. Em quarto lugar, ele precisa fazer correla­ções do que descobriu com outras verdades bíblicas que ele já co­nhece; isto é feito mediante a referência cruzada de versículos e a comparação de Escritura com Escritura. Finalmente, ele tira uma conclusão, aplicando na sua vida de modo prático as verdades que estudou.1
5. No estudo dinâmico da Bíblia você nunca esgotará as riquezas da passagem da Escritura em estudo. O salmista declarou: "Tenho constatado que toda perfeição tem limite; mas não há limite para o teu mandamento" (SI 119.96). Você pode pesquisar a Escritura laboriosamente, mas nunca tocará o fundo. Salomão disse: "Se procurar a sabedoria como se procura a prata e buscá-la como quem busca um tesouro escondido, então você entenderá o que é temer o Senhor e achará o conhecimento de Deus" (Pv 2.4,5). Mas o filão da prata pertencente a Deus é inesgotável e o tesouro, ilimitado.
E por isso que você pode estudar a mesma passagem inúmeras vezes; você a pesquisa a fundo, e três ou quatro meses depois quando volta ao texto, percebe que há muito mais a descobrir. A chave é: persevere! Lembre-se de que não há limite ao número de perguntas a ser feito, não há limite às observações a serem feitas, não há limite às aplicações a serem implementadas. Portanto, não desista. No que tange ao estudo da Bíblia a melhor atitude a assumir é a que Jacó assumiu quando lutou com o anjo e disse: "Não te deixa­rei ir, a não ser que me abençoes" (Gn 32.26).
No estudo da Bíblia não há atalhos. E trabalho duro, mas se você for diligente e paciente, colherá os resultados em seu devido tempo. Assim que você sentir a alegria e satisfação que vêm ao encontrar por conta própria uma verdade espiritual fantástica e aplicá-la em sua vida, perceberá que valeu o esforço. Então, per­sista!
Preparação para o estudo dinâmico da Bíblia
Não vá ao estudo da Bíblia precipitadamente. O bom estudo da Bíblia exige preparação. Exponho a seguir quatro coisas que lhes são importantes se você deseja receber o maior benefício do estudo.
1. Fixe um horário para o estudo da Bíblia. Separe uma quanti­dade específica de tempo para fazer o estudo da Bíblia a cada sema­na. Isto dependerá de quanto tempo você quer passar estudando-a. Não exagere, mas também não se dedique de menos. Se você não colocar o estudo na'agenda semanal, nunca encontrará tempo ou fará um estudo esporádico e pouco profundo. Você tem de encon­trar tempo para o estudo da Bíblia.
Com que freqüência você deve estudar a Bíblia? A resposta varia de pessoa para pessoa, mas um fator importante a lembrar é a dis­tinção entre o período da hora silenciosa e o período do estudo da Bíblia. Você deve fazer diariamente a hora silenciosa. Em geral, é um período devocional curto (10-30 minutos) no qual você a Bíblia, medita por alguns minutos no que leu e ora. O propósito da hora silenciosa é ter comunhão com Jesus Cristo (v. apêndice a para inteirar-se de como fazer a hora silenciosa).
Você não deve fazer um estudo detalhado da Bíblia durante a hora silenciosa. De fato, nada aniquilará seu devocional mais rapidamente do que se ocupar no estudo sério da Bíblia durante esse período de devoção. Apenas desfrute da presença de Deus e comungue com ele.
Porquanto é melhor você fazer a hora silenciosa em 10 minutos diariamente do que em apenas um período de uma hora uma vez por semana, o oposto exato é verdade no que se refere ao estudo da Bíblia. Não se pode estudar a Bíblia com eficácia na modalidade de um bocado de cada vez. É melhor delinear períodos maiores de tempo (duas a quatro horas) do que tentar estudar um pouco to­dos os dias. Então, à medida que você for desenvolvendo suas habi­lidades no estudo da Bíblia, passará mais tempo com ela.
Provavelmente, o pior inimigo para o estudo da Bíblia nos dias de hoje no mundo ocidental seja a televisão. O americano comum de 18 anos de idade já acumulou cerca de 18 000 horas vendo televisão. Peritos nos informam que quando o americano que foi criado vendo televisão, atingir a idade de 65 anos, terá assistido uma média de nove anos e meio. São 15% da vida gastos na frente do aparelho de televisão!2
Em contrapartida, se a pessoa for regularmente à escola domi­nical desde o nascimento até a idade de 65 anos, terá um total de apenas quatro meses de ensino consistente da Bíblia. E ainda fica­mos admirados por que há tantos cristãos fracos na sociedade oci­dental? Temos de nos disciplinar e separar tempo específico para o estudo da Bíblia e não deixar nada nos atrapalhar.
Devemos estudar a Bíblia quando estamos na melhor forma física, emocional e intelectual, e quando nada nos distrai e nos apressa. Considerando que você é ou "pessoa diurna" ou "pessoa noturna", escolha a hora em que está mais desperto. Nunca tente estudar quando estiver cansado ou imediatamente após uma refei­ção pesada. Estude quando estiver descansado e bem desperto.
2. Mantenha um caderno. Como já declaramos, você não pode estudar a Bíblia sem escrever as coisas que observou. Cada méto­do de estudo sugerido neste livro tem um formulário para o estu­do que o acompanha.3
3. Adquira as ferramentas certas. Junto com cada método de estudo há uma lista sugerindo ferramentas de referência que você precisará para o estudo. Os primeiros métodos requerem algumas ou nenhuma ferramenta, ao passo que as últimas requerem várias delas. Considere fazer um investimento nestas ferramentas de refe­rência e montar uma pequena biblioteca. Será um investimento que você usará pelo resto da vida. Na próxima seção apresentamos uma discussão sobre essas ferramentas, com sugestões para uma biblioteca básica e mais avançada.
4. Faça uma curta oração antes de cada estudo. Primeiramente, peça ao Senhor que limpe sua vida de todo o pecado conhecido e o encha com o Espírito Santo, assim você estará em comunhão com ele durante o estudo. Esta é a vantagem em estudar a Bíblia em relação a estudar um livro didático: há comunicação direta com o Autor. Você tem o privilégio de não só estudar a revelação, mas o revelador. Portanto, certifique-se de que você está em co­munhão com Cristo antes de estudar a Palavra. O apóstolo Paulo disse que se você estiver na carne ou for carnal, não poderá enten­der as verdades espirituais (1 Co 2.10—3.4). Você tem de estar em comunhão com o Senhor a fim de entender e aplicar sua Palavra. Como disse alguém: "Precisamos examinar nosso coração antes de examinarmos as Escrituras". Precisamos ter a certeza de que nossa vida está em relação certa com Deus antes de pesquisarmos sua Palavra.
Em segundo lugar, ore para que o Espírito Santo o guie no estudo. A melhor maneira de entender a Bíblia é falar com o Au­tor. Memorize Salmos 119.18 e o use antes de cada estudo: "Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei". Peça que Deus lhe abra òs olhos para a Palavra. Em última análise, a menos que Deus Espírito Santo lhe abra os olhos para ver as verdades da Palavra, todo o estudo será um esforço perdido.
Como escolher as ferramentas certas para um bom estudo da Bíblia
Provavelmente, um dos segredos mais bem guardados na cristan­dade esteja relacionado com a disponibilidade de ajudas para o es­tudo prático da Bíblia. A maioria dos cristãos desconhece que haja atualmente muitas e excelentes ferramentas de referência para tor­nar o estudo pessoal da Bíblia possível e instigante. E comparável ao carpinteiro que quer construir uma casa, mas não sabe que existe martelo e serra.
Os pastores devem familiarizar o rebanho com estes livros, pois o diabo se delicia em mantê-los fora de circulação. Contanto que Satanás seja bem-sucedido em impedir que os cristãos estudem a Bíblia por conta própria, seu trabalho será muito mais fácil. O cristão que não passa tempo regularmente a cada semana no estu­do pessoal da Bíblia não terá forças para resistir às tentações do diabo. Um modo prático no qual os pastores podem "preparar os santos para a obra do ministério" (Ef 4.12) é familiarizar a congre­gação com essas ferramentas de estudo da Bíblia.
O propósito das ferramentas de referência
Na qualidade de cristãos que vivem no mundo ocidental, temos abundância de livros úteis que foram projetados para nos ajudar em nosso estudo pessoal da Bíblia, usando os mais recentes acha­dos arqueológicos, estudos de palavras e pesquisa de grandes estu­diosos da Bíblia. No entanto, as ferramentas de estudo da Bíblia não têm o desígnio de substituir a Bíblia; antes, ajudam-nos a estu­dar a própria Bíblia. O estudo da Bíblia é habilidade que precisa­mos desenvolver. A maioria das habilidades requer uso de algum tipo de ferramenta. Os carpinteiros precisam de martelos e serras; os artistas precisam de pincéis e tintas; os encanadores precisam de chave inglesa. Semelhantemente, o estudante sério da Bíblia irá desejar tirar proveito da disponibilidade de ferramentas de referên­cia para o ajudar no exame eficaz das Escrituras. A pessoa que tenta estudar a Bíblia sistematicamente sem se servir de boas ferramentas descobrirá que seu trabalho é tedioso e difícil.
Alguns cristãos, temerosos de que venham a ficar muito de­pendentes das ferramentas de referência, hesitam em usá-las. Ou­tros dizem piamente: "Tudo de que preciso é a Bíblia". É verdade; mas as ferramentas sugeridas nesta seção foram projetadas para ajudá-lo a embrenhar-se na Bíblia. Você não deve ter medo de usar ferra­mentas de referência, pois a maioria destes livros representa estudos de homens de Deus que dedicaram a vida inteira nesse empenho.
As compreensões intuitivas que receberam do Senhor enriquecem imensamente o estudo da Bíblia e provêem informação sobre pessoas, lugares e acontecimentos que você não acharia só lendo a Bíblia.
As ferramentas
Nesta seção, examinaremos oito tipos de ferramentas de referência que são usadas nos métodos de estudo da Bíblia apresentados e explicados neste livro.
1. Bíblia de estudo. Sua primeira e mais importante ferramenta é uma boa Bíblia de estudo. Certas Bíblias são mais adaptáveis ao estudo pessoal da Bíblia que outras. Uma boa Bíblia de estudo deve ter letras grandes o bastante para você ler por longos períodos de tempo sem ficar com dor de cabeça por forçar os olhos. Tam­bém deve ter papel espesso o bastante para você tomar notas sem que a tinta traspasse o outro lado do papel. Margens largas são úteis, porque permitem fazer anotações pessoais. Por fim, uma Bí­blia de estudo deve ter um bom sistema de referência cruzada.
Uma excelente Bíblia de estudo é a Bíblia de Referência Thompson com Versículos em Cadeia Temática, publicada pela Editora Vida.
Bíblias de estudo como essa representam longos anos de estu­do e pesquisa minuciosa, resultando numa riqueza de material proveitoso. O dr. Frank Charles Thompson passou mais de 30 anos compilando seu sistema extremamente prático de referênci­as cruzadas.
2. Várias traduções recentes. Nos últimos 50 anos, vimos a pro­dução de muitas novas traduções da Bíblia. Embora existam falhas em toda tradução, cada uma faz contribuição única para o melhor entendimento da Bíblia. O maior benefício que podemos obter destas versões é comparando-as umas com as outras no estudo. Os muitos possíveis significados e usos de certa palavra podem ser en­contrados mediante a leitura de determinado versículo nas várias versões e anotar as diferenças.
Hoje em dia também há Bíblias "paralelas" a qual, num único volume, apresentam várias traduções lado a lado. Isto permite com­parar traduções prontamente sem ter de dispor dez Bíblias em cima da mesa. Além destas traduções, há as paráfrases. Uma tradução é mais que tradução palavra por palavra do idioma original; uma paráfrase é o que se acredita que o original diz, o que requer inclu­são em alguns lugares de interpretações próprias. A maioria das tra­duções foi preparada por um grupo de estudiosos, ao passo que uma paráfrase é o trabalho de um indivíduo. Paráfrases são ótimas para luz ocasional na leitura devocional, mas não devem ser usadas para estudo sério da Bíblia. Use uma tradução precisa e respeitada para essa finalidade.
Uma tradução útil e fidedigna é a Nova Versão Internacional (Editora Vida), a qual tem obtido ampla aceitação no curto perío­do de tempo que foi lançada. Há muitas outras traduções ótimas hoje em dia, portanto escolha as que você se sinta mais à vontade. Duas ou três traduções diferentes e recentes da Bíblia bastam para começar.
Duas paráfrases recomendáveis são v4 Bíblia Viva (Editora Mun­do Cristão) e a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (Sociedade Bíblica do Brasil).
3. Concordância exaustiva. Sem dúvida, a ferramenta mais im­portante que você vai precisar para o estudo da Bíblia ao lado da Bíblia de estudo é a concordância. Esta ferramenta é um índice bíblico das palavras contidas em certa versão bíblica. Várias Bíbli­as possuem concordâncias limitadas a certo número de palavras e nomes importantes. Uma concordância exaustiva relaciona todos os usos de cada palavra da Bíblia, e dá todas as referências onde tal palavra é encontrada. Tratam-se de volumes grandes e vultosos, bastante caros, mas valem cada centavo investido. Você precisará de uma concordância em todos os métodos apresentados neste livro, exceto em dois.
4. Dicionário bíblico elou enciclopédia bíblica. Um dicionário bíblico explica muitas das palavras, tópicos, costumes e tradi­ções contidos na Bíblia, bem como presta informação histórica, geográfica, cultural e arqueológica. Também fornece material do cenário de cada livro da Bíblia e apresenta biografias curtas das prin­cipais pessoas de ambos os testamentos. Uma enciclopédia bíblica é um dicionário bíblico expandido com artigos mais longos que tra­tam com maiores detalhes de mais assuntos.
5. Bíblia temática. Esta ferramenta é semelhante a uma con­cordância, exceto que categoriza os versículos da Bíblia por temas e não por palavras. Isto ajuda o estudante da Bíblia, porque é freqüente um versículo tratar de um tema sem nunca usar a pala­vra específica. Se você tivesse de confiar apenas na concordância, perderia alguns versículos ao estudar um tema. Por exemplo, se você procurar o assunto "Trindade" numa Bíblia temática, achará diversas referências alistadas, embora a palavra não ocorra na Bíblia.
Outra característica útil é que os versículos em cada tema são escritos por completo, o que lhe permite esquadrinhar pronta­mente os versículos-chaves em determinado tema sem ter de ler cada um deles na Bíblia. Entretanto, tenha em mente que uma Bíblia temática não é exaustiva, pois nem todo versículo relacio­nado a um tema é alistado.
6. Manual bíblico. Esta ferramenta é a combinação de enciclopé­dia com comentário em forma concisa. E usado para referência rápida, enquanto se lê do princípio ao fim determinado livro da Bíblia. Em vez de estar organizado alfabeticamente por temas, os manuais são projetados a seguir a ordem dos livros da Bíblia. For­necem notas de fundo, breve comentário e mapas, quadros, diagra­mas, notas arqueológicas e muitos outros fatos úteis.
Um dos melhores é o Manual Bíblico de Halley, de Henry H. Halley (Editora Vida).
7. Livro com estudo de palavras. Esta é área na qual o cristão de hoje tem o grande privilégio de se beneficiar do trabalho dos estu­diosos da Bíblia. Por causa da disponibilidade de ferramentas de referência práticas escritas para o cristão comum, você pode estu­dar as palavras originais da Bíblia sem saber nada de hebraico ou grego. Alguns autores têm passado a vida inteira procurando os significados completos das palavras originais para depois escrever sobre elas em linguagem simples e compreensível.
Um bom livro com estudo de palavras lhe dará a seguinte in­formação: o significado da raiz original da palavra grega ou hebraica (sua etimologia), os vários usos da palavra ao longo da Bíblia e na literatura similar não-bíblica daquele período histórico e a freqüên­cia na qual a palavra ocorre na Bíblia.
8. Comentários. Um comentário é uma coletânea especializada de notas explicativas e interpretações do texto de determinado livro ou seção da Bíblia. Seu propósito é explicar e interpretar o significado da mensagem bíblica analisando as palavras usadas, o plano de fundo, a introdução, a gramática e a sintaxe, além da relação desse livro em particular com o restante da Bíblia. Usado corretamente, os comen­tários aumentam grandemente sua compreensão da Bíblia. Em geral, você não deve consultar um comentário até que faça seu estudo. Não deixe outra pessoa roubar-lhe a alegria de descobrir insights bí­blicos por conta própria. Nunca permita que a leitura de um comen­tário tome o lugar do estudo pessoal da Bíblia.
Os comentários são obras falhas, porque são escritas por homens. Às vezes, comentaristas igualmente capazes discordam entre si no que tange a interpretações do mesmo texto bíblico. O melhor modo de usar um é conferir os achados em seu estudo com os do autor/comentarista, e descobrir se ele é consistente e evangélico no com­promisso com a Escritura. Evite comprar e usar comentários escritos por pessoas que não consideram a Bíblia como a Palavra de Deus.
Os comentários são apresentados em todos os tamanhos e variam de comentários de um volume sobre a Bíblia inteira a coleções em vários volumes.
Uma biblioteca básica
Quem está começando o estudo pessoal da Bíblia deve comprar somente as ferramentas básicas mais necessárias. Para os métodos de estudo da Bíblia apresentados neste livro, os itens a seguir com­põem uma biblioteca básica:
1. uma Bíblia de estudo;
2. duas versões bíblicas diferentes;
3. uma concordância exaustiva;
4. um dicionário bíblico;
5. uma Bíblia temática;
6. um manual bíblico;
7. um comentário de um volume.
Uma biblioteca mais avançada
A medida que você ficar proficiente no estudo pessoal da Bíblia e se habituar no uso das ferramentas de sua biblioteca básica, acrescente outras ferramentas avançadas à coleção. Além das sete ferramentas acima, os seguintes itens são recomendados:
1. outras versões e paráfrases;
2. uma enciclopédia bíblica;
3. um livro com estudo de palavras;
4. comentários de cada livro da Bíblia;
5. um atlas bíblico;
6. pesquisas sobre o Antigo e Novo Testamentos;
7. qualquer outro livro que o interessar.
Conclusão
Nesta altura você deve estar pensando: Quantos livros/Tem razão, mas pense como investimento a longo prazo em sua vida espiritual. Muitos livros que você compra são lidos apenas uma vez e depois colocados na estante para juntar pó. Mas obras de referência são usadas toda vez que você estudar a Bíblia e podem lhe dar uma vida inteira de satisfa­ção. Se seu estudo pessoal da Bíblia for sério, então você desejará adquirir estas ferramentas a despeito do custo.
Economize para comprar estas ferramentas e iniciar a biblioteca básica. Se você estabelecer a meta de comprar um livro por mês, em um ano terá respeitável e valiosa coleção de ferramentas de refe­rência. Estas também podem ser excelentes sugestões de presente de Natal ou de aniversário. Um livro que você usa é um presente que dura a vida inteira.
Por fim, incentive sua igreja a montar em sua biblioteca uma seção de ferramentas de referência para o estudo da Bíblia. A igreja poderia comprar as ferramentas mais caras, como enciclopédias, livros com estudo de palavras e comentários, e disponibilizá-los para os membros. Possivelmente, diversas cópias de cada ferramen­ta seriam compradas.
Considerando que a Bíblia é a Palavra de Deus, o estudo da Bíblia tem de ter a máxima prioridade. Com essas ferramentas você poderá pesquisar eficazmente as Escrituras, um empenho de grande importância que mudará sua vida.

 prof°: Euler lopes.       Referências Bibliográficas. Rick Warren